Um breve bilhete sobre: ambulâncias

Um breve bilhete sobre: ambulâncias

18 de maio de 2021 2 Por Agatha Pedersen

Todo mundo já sentiu um aperto no coração ao ouvir a sirene de uma ambulância de dentro do carro ou ônibus. É uma comoção generalizada. Todo mundo buzina, avisa para os da frente, sobe com o veículo no passeio, se aperta e ajeita… abre espaço de algum modo.

O som ganha volume, o infortúnio se aproxima. Esticamos os olhos para ver se temos algum vislumbre do que, com grande alívio mental, não aconteceu com a gente. A ambulância passa, você a acompanha até onde o olhar alcança e torce para que fique tudo bem com quem quer que esteja ali dentro. Por um momento agradece a vida e repensa nos seus hábitos e como temos que valorizar como estamos bem, ou no mínimo, em situação melhor que o sujeito da ambulância. 

Você pisca.

Aí os carros se endireitam, voltam a ocupar a fileira ordenada dentro dos limites da tinta no chão. Alguns motoqueiros e motoristas tentam pegar carona atrás da ambulância e burlar o fluxo natural de um trânsito caótico em horário de pico. Talvez, para essas pessoas, a reflexão durou apenas a metade do suspiro de alívio de não estar ali dentro (isso na esperança que o suspiro realmente aconteceu!). A vida segue, como sempre seguiu entre catástrofes e vitórias, afinal, o mundo não pára… siga em frente porque atrás vem gente.

Engraçado como ambulância comove a gente. Quantas mais ambulâncias você tem na sua vida? Ou melhor, quantos “sacodes leão” te fazem refletir sobre a sua vida e agradecer sua existência? Quantas dessas ambulâncias evapora do seu pensamento assim que “escapa de vista” ? Seria sua ambulância, a  iminência de uma doença ou limitação? O contato com pessoas com menos privilégios que você? Um aperto emocional inexplicável? Ou seria a perda de pessoas próximas? A vida é um sopro…sempre dizem. Mas a frase fica ali, no período que flanqueia o grande acontecimento. Logo se esvai, junto com o transito… O pior é que às vezes nem percebemos, que em alguns casos, nós somos aqueles que pegam carona na ambulância para escapar do fluxo natural das coisas…

Temos muitas ambulâncias no nosso transito interno. A questão é: que tal fazer dela um motivo permanente de gratidão?