Trabalho em Grupo e Covid-19

Trabalho em Grupo e Covid-19

3 de abril de 2020 0 Por Agatha Pedersen

Todo mundo já teve que fazer algum trabalho em grupo, seja na escola, faculdade ou até mesmo trabalho. Você deve concordar comigo que trabalho em grupo é sempre, no mínimo, um pouco estressante. E são vários os motivos: as pessoas tem convicções diferentes (aqui ressalto convicção, e não somente visão ou pensamentos diferentes), cada um tem seu jeito de trabalhar e sobretudo, cada um tem seu tempo. Ao mesmo tempo, todos estão esperando que o outro aja conforme se deseja, e aí começa o caos. O tranquilão está a espera dos demais realizarem o trabalho, e se os demais não agem como ele espera: estresse. O perfeccionista não quer que ninguém discorde de suas ideias, para que o trabalho fique da maneira que ele acredita como perfeito, e, se assim não ocorre: caos. O justiceiro quer participar, mas só o suficiente para preencher sua parte, já que o trabalho é em grupo, cada um tem que fazer exatamente a mesma quantidade de trabalho, e se assim não ocorre: delator à vista, ou no mínimo ranços são criados. Você nunca vai encontrar pessoas que trabalhem, pensem e produzam como e na velocidade que você, e se encontrasse, não haveria motivos para se fazer um trabalho em grupo, já que o resultado seria muito similar à um trabalho individual seu. Por mais que batamos na tecla do diálogo, do entendimento e da troca de saberes e contribuições, não é raro alguém sair chateado, frustrado ou com a sensação de que o trabalho poderia ter sido melhor feito, e só não foi porque foi feito em grupo e um (ou mais) meliante(s), estragou tudo.

Atualmente o mundo está passando por uma crise na área da saúde, e para resolver a questão é necessário um GRANDE e extensivo trabalho em grupo. Pra quem achou ruim fazer o TCC em grupo de três pessoas, imagine resolver a pandemia em grupo de 209 milhões de pessoas, que é o nosso grupo aqui no Brasil. E além: cada grupo tem que apresentar seu trabalho em grupo para um grupão de de 7 bilhões de pessoas. O lado bom de se ver vários trabalhos em grupos é a oportunidade de ouvir várias opiniões e críticas a respeito do seu trabalho além de ver qual grupo tem se saído melhor nessa corrida contra o tempo para resolver o problema. Mas a questão é: mesmo tendo posse de informações em tempo real dos outros grupos e as críticas de uma banca enorme, ainda temos o problema interno de 209 milhões de pessoas entrarem em um consenso e trabalhar em grupo. 

O primeiro grande desafio de um trabalho em grupo é todo mundo estar ciente de qual é o trabalho, ou seja, o que tem que ser feito. Sabemos muito bem que não são todos que leem os artigos e bibliografia base. Alguns leem, outros jogam no Google para se ter uma ideia mais rápida e fácil do que é, e outros simplesmente esperam que quem viu no Google ou leu, lhes conte. Esse é o grande ponto de um trabalho em um enorme grupo. Cada um reune as informações como pode, e às vezes como convém. Assim, cada um dá a importância de acordo com as informações que adquiriu. É o que tem acontecido no nosso trabalho em grupo aqui do Brasil. Cada um dá a relevância ao problema de acordo com o que tem de informação base e com o que acredita. E este trabalho, mais do que nunca, é pontuado em grupo, e não individualmente. E vale lembrar que essa pontuação vai ter implicação direta em se vamos tomar pau ou não, afinal, equivale a maior parte da nota do semestre. Preocupante? Bastante, pelo menos para quem não quer perder o semestre!

O segundo grande desafio de um trabalho em grupo é dividir as tarefas e responsabilidades de acordo com as habilidades de cada um. Aqui, em geral, sempre aparece um líder. Não que neste contexto ele tenha uma hierarquia diferenciada, mas ele é responsável por mediar a distribuição de tarefas e amenizar os conflitos que surgirem a partir disso. No nosso cenário nacional temos um líder de hierarquia diferenciada que tem se pronunciado a respeito da divisão de tarefas e responsabilidades de cada um. Apesar de ter vários exemplos, recomendações e orientações de como fazer essa divisão, insiste em tomar uma direção oposta para que o máximo de pessoas passe de ano. Preocupante? Bastante, pelo menos para quem quer formar junto com a sua turma.

O terceiro grande desafio de um trabalho em grupo é fazer acontecer, juntar tudo que está todo mundo fazendo e montar um trabalho digno de nota A. Neste momento, não é hora de julgamento, de discussão de quem fez mais ou menos, ou de fazer uma pontuação própria no trabalho do outro, como se você tivesse a autoridade para isso. É o momento de reunir tudo que foi e tem sido feito. Momento de pontuar melhoras, apenas melhoras. É momento de gratidão e elogio ao outro que está contribuindo como consegue dentro da sua capacidade e entendimento. É momento de dar real significado à palavra “grupo”, conjunto de pessoas que formam um todo, uma coisa só. Assim, é momento de tomar um partido, que o grupo entende como melhor, mesmo que este posicionamento vá contra ao que o líder supõe como melhor opção. 

Como disse antes, não há trabalho em grupo que não envolva um mínimo de incômodo, e este obviamente não seria diferente. Mas o ponto relevante é: não deixe com que este incômodo – de uma situação de difícil administração – faça com que você chegue no final do semestre com a sensação de que poderia ter feito mais. Ao chegar lá, não adianta responsabilizar meliantes como costumamos fazer em trabalhos escolares, “eu fiz minha parte mas fulano não”. Faça sua parte. Faça a parte do outro se possível. Divulgue, estude, leia, busque mais de uma fonte. Se cuide e cuide dos outros… Só assim vamos passar nessa difícil disciplina, porque: ou passa todo mundo, ou ninguém passa!