Qual formiga você tem sido?
Todo mundo já observou uma formiguinha caminhando despretensiosamente isolada de seu grupo social em qualquer superfície da casa. O próprio caminhar já diz muito sobre ela: dona de si, aproveitando o momento, seguindo para algum destino para conquistar seus objetivos de vida (não menosprezemos os objetivos de vida de uma formiga!).
Daí, o mesmo “todo mundo” resolve testá-la com aquele soprão de tirar o fôlego. Reza a lenda, que há três resultados para este cenário: (i) se for bem pequenininha ela voa; mas se for suficientemente grande: (ii) ou ela abaixa se segura bem próxima à superfície até seu fôlego acabar, depois levanta e segue a vida normalmente, ou (iii) ela apronta um desespero, corre pra lá e pra cá e salve-se quem puder, pois é o apocalipse. Sobre a formiga (i) não há o que dizer. Ela voou, foi embora, não é possível analisar seu comportamento com este simples experimento. Já a (ii) e a (iii) muito nos têm a dizer. Enquanto a formiga (ii), está segura de todo o seu potencial de se segurar firme e também de não se deixar abalar com seu soprão (ou também, seu hálito) a formiga (iii) se apavora e perde as estribeiras total.
Alguma carapuça encaixou?
Às rainhas do drama e reis de “o mundo está acabando”, foquem na formiga (ii). Ela não sabe o que é aquele evento estressante, de onde vem, porque veio, ou se quer se vai parar. Mas ela se segura, abaixa seu corpinho e fica ali no vendaval, se segurando firme. O que passa na cabecinha desse ser? Como pode ser tão “frágil” e tão segura e controlada?
Talvez a convicção do “depois dali” a mantém firme. A certeza de chegar no formigueiro para família e amigas, ou o happy hour sexta a noite pós colheita (#sextou!), ou quem sabe a paz interior de ser o que se é e aceitar isso, é o suficiente para se segurar firme independente do que vier. Afinal o mais importante está no todo, após este pequeno incidente.
Já a última, se testar, até com uma assoprada do nariz (mais suave e menos “fim do mundo”) ela já dá uma apavoradinha. Para ela, o mundo é mesmo um perigo!
Tudo que foge a normalidade e o que se tem costume é motivo de desespero. Provavelmente é uma formiga que encara apenas o agora e não enxerga muito além. É a morte, ninguém sobreviverá… o fim dos tempos.
Muitas vezes no dia a dia passamos por soprões desse tipo. Chegam umas rasteiras, que não sabemos de onde veio, por quê veio, se vai ser resolvido ou ainda por quê está acontecendo conosco, especificamente. São coisas da vida, como o fim de relacionamentos, perda de emprego, acidentes, doenças, e por aí vai…
De todo modo acontece, afinal, a vida não é maravilhosa o tempo inteiro. Porém, a forma como se encara um soprão pode facilitar a passagem pela rasteira. É claro que não precisa ter sangue de barata (expressão que deve ser analisada, mas em outro texto) e não sofrer ou deixar-se abalar nunca. Mas a questão é: é possível deixar-se acabar por este evento, ou é possível abaixar e se segurar firme no seu firmamento, mentalizando o todo, para em seguida levantar e recomeçar, pois a vida vai muito além de qualquer soprão inesperado.
Nota: Não assoprem formigas!
Querida Agatha, a resiliência faz morada no interior que a acolhe com intenso sentido e no exterior que sabe ousar defende-la. Parabéns pelo texto💐 .