A vida no metrô
Todo mundo já pegou metrô ou pelo menos entende como um funciona, seja vendo em filmes, estudando no ensino fundamental ou aprendendo sobre o subway no cursinho de inglês. Não vamos romantizar, metrô não é nada daquilo, ou pelo menos, não o de Belo Horizonte. Para começar, aqui na capital mineira, onde TUDO (eu digo, absolutamente tudo) é “trem”, o único “trem” que literalmente é um trem, ousamos dar o nome de metrô. O erro começa ai.
Oficialmente, um metrô consiste em um meio de transporte subterrâneo, movido a propulsão elétrica nos trilhos que contém linhas ramificadas para atender a cidade.
Aqui, nosso metrô não é subterrâneo e sua ramificação consiste em uma linha reta que liga dois pontos e só é feliz quem mora perto de qualquer ponto entre A e B.
Não entrando no mérito da construção e logística ou até mesmo do nome que usamos ao nos referir a tal transporte, quero discutir outra coisa: a violência dentro do metrô.
Como frequentadora assídua (mínimo de 10 vezes por semana) posso dizer com propriedade: as pessoas do metrô são violentas. Corrigindo: as pessoas do metrô, no horário de pico, são violentas.
Pego o metrô na segunda estação, e pasmem: ele já vem cheio. Ao entrar reparo logo nas pessoas sentadas, “quem será que está com cara de quem vai levantar primeiro?”. Minha percepção ainda está em teste, não tenho acertado muito. Mas a violência número 1 que quero relatar é a de quem está sentado. Ando reparando que algumas pessoas (e se você faz parte dessa turminha, saiba que eu estou de olho) percebe que quem está em pé, está a espreita só esperando qualquer sinal de movimento para se alocar no banco desejado (o dia de um usuário de metrô já inicia com um objetivo específico: sentar! Por isso acho que essas pessoas já são, naturalmente, pessoas determinadas e focadas, não por personalidade, mas por necessidade mesmo. Essas habilidades são trabalhadas diariamente). Voltando: essa turminha encrenquinha deu agora para “fingir” que vai levantar. Elas guardam os pertences dando a entender que estão perto de descer do nosso querido metrô, e no fim das contas era apenas mais um 7×1. Ao menor sinal de movimento de uma pessoa sentada, todos em pé ao redor já se preparam: fazem a base no pé, firmam o lombo para tentar forçar a pessoa a sair em um movimento que favoreça sua entrada para o pequeno espaço que vai se abrir na frente do banco. Todo esse estresse e preparação física e psicológica para a pessoa guardar o celular e ficar sentada mais setenta pontos ou descer junto contigo, que já está com as articulações todas travadas igual os dentes da boca, de raiva. Amigos, isso não é legal, e pode ser considerado um tipo de violência. Quem está sentado deveria ter o mínimo de cortesia pelos que estão em pé e não esboçar nenhum sinal que possa ser confundido com um levantamento. Pensem nisso!
Tipo 2 de violência: oferecer para carregar a mochila de uma pessoa e não da outra. Deixe-me explicar: entendo que ninguém conseguiria carregar todas as mochilas e bolsas dos cidadãos em pé no metrô (densidade elevadíssima), porém qual o critério de escolha? Eu como frequentadora assídua já percebi que não consiste simplesmente em quem está na sua frente, pois já estive na frente de alguém que ofereceu para a pessoa que estava ao meu lado, mais distante, e não ofereceu para mim. Nome disso? Violência. Não sei qual foi o critério de escolha e nem quero pensar muito sobre isso, ainda estou me recuperando.
Violência número 3: alguém levanta BEM na sua frente, pode inclusive ser alguém que não foi violento e estava carregando sua mochila. Obviamente existe uma regra tácita de que aquele lugar, por estar marcado com a pessoa que estava na SUA frente com a SUA mochila, é em seguida, seu. Porém existe uma outra turma trombadinha que burla essa lei e entra no lugar antes mesmo de você conseguir sinalizar que esta prestes a assumir o posto que é seu por direito. Tento encarar friamente no olhar esses seres humanos que pouco tem no coração, mas em geral a culpa e vergonha é tamanha que o olhar não se cruza. Seguimos mais uns pontos travando as articulações.
Violência número 4: recentemente o metrô de BH foi atualizado, temos carros novos, agora, com ar condicionado (dias de glória, pensamos todos, afinal não temos mar, mas o calor temos de sobra no verão). Entretanto, é como se fosse uma atualização de aplicativo, veio cheio de bugs (dias de luta: até quando a gente ganha a gente perde). Para começar, os bancos foram rearranjados para caber mais pessoas em pé (Oi?). Se já estava difícil sentar antes, agora vai selecionar ainda mais as habilidades de foco e determinação, e de tabela, a violência no metrô! Para agregar, os ferros de segurar com a mão ficaram mais altos (Oi?). Teve algum estudo em que o pessoal do metrô está aumentando de tamanho? Agora, além de firmar o lombo, a base, ficar atenta a qualquer movimento e segurar a bolsa que ninguém se oferece para segurar, de quebra vce ainda pega uma tendinite no ombro de tanto esticar o braço para conseguir alcançar o bendito ferro e ficar pendurada nele por uns 40 minutos. Sério, violência atrás de violência, ninguém merece.
A última violência a qual quero me dirigir diz respeito aos indivíduos que ficam na porta. Entendo, porém não respeito. A porta é um lugar excelente. Quando fecha você escora nela e não precisa esticar a vida para se segurar no ferro dois metros acima. Além disso, a cada ponto entra uma brisa, que na situação da hora de pico, de alta densidade no interior do metrô, traz um alívio e a lembrança de que a vida continua viva lá do lado de fora. Por fim, quando chega no seu ponto você já está pronto para sair, na lei do menor esforço. Muitos benefícios, eu entendo. Mas não respeito. Quem está se dando ao trabalho de enfrentar a competição e cadeia alimentar do lado mais adentro do metrô, passa TODOS os perrengues já mencionados e quando finalmente chega a hora de sair (muitas vezes já frustrado por não ter alcançado o primeiro objetivo do dia: sentar – inclusive, como começar o dia já falhando no seu primeiro objetivo? Haja psicológico!) tem ainda que desviar de hidrantes e estátuas INCLUSIVE na porta! Ninguém merece. Parece que se não é seu ponto, a pessoa cria raizes no chão do metrô e todo mundo que se cuide de desviar e passar no labirinto. E se reclamar ainda vai receber um olhar repreendedor!
Não existe empatia, não existe coração. É violência atrás de violência.
No treino da redação para o ENEM, aprendi que não devemos apenas apontar problemas, mas também soluções. Aqui vão as minhas: 1. Mais amor no metrô, por favor. 2. Pergunte aonde as pessoas sentadas vão descer, isso vai te poupar ficar em pé no metrô frente a alguém que não vai te ajudar na sua jornada. 3. Se está em pé na porta: MOVA-SE! ninguém é obrigado a desviar de hidrantes posicionados em locais proibidos!
Fica aqui um texto de indignação, porém também de utilidade pública para todos os usuários deste tipo de transporte público.
Oi Tina, boa noite!
Gostei muito do seu texto e eu, como ex frequentador do metrô (venci!), acho que retrata muito bem a realidade.
Vale ressaltar que além de informativo é um texto perspicaz e engraçado, haha.
O aspirante foi promovido a seguidor, acredite!
Um abraço e até logo.
hahaha, ótimo texto.
Sou a pessoa privilegiada de ir sempre sentada por pegar o metrô na primeira estação kkkkk