Virei adulto?

Virei adulto?

1 de março de 2020 2 Por Agatha Pedersen
Todo mundo vira adulto. Exceto quem ainda não virou. Mas estes também não escaparão, é só uma questão de tempo.
 
Virar adulto é um enigma. Quando somos pequenos criamos mil fantasias sobre ser adulto. Olhamos as pessoas mais velhas e imaginamos sobre o que é ser adulto.
Aparentemente, virar adulto é só uma questão de idade, de se graduar em uma faculdade, e/ou conseguir um emprego e sair de casa. Ser responsável por si mesmo, por levar algum prato no natal da família ou por dar presentes para familiares em seus aniversários (antes de ser adulto você sempre entra no presente dos seus pais para alguém, o que é financeiramente conveniente).
Independente dessas mil concepções que criamos, ninguém te conta que não existe um “clique”, um momento ou um dia exato em que a partir dele você se torna um adulto e não há volta. É um processo gradual.
As vezes, você já é adulto e se sente, inclusive, mais criança do que nunca, e se julga, por isso, um péssimo adulto. Há ainda a teoria de que não existem realmente pessoas adultas, mas sim, um tanto de jovem que mente e dissimula serem adultos diariamente, uns sendo mais convincentes que outros. “E o prêmio de melhor adulto desse mês vai para…”
Essa teoria é minha mesmo, ou talvez de outras pessoas que também já pensaram sobre isso, afinal já disse Legião Urbana: “você julga seus pais por tudo, isso é um absurdo, são crianças como você”.
Realmente, a palavra “pais” já vem atrelada com a palavra “adultos”. Eles sabem de tudo, eles são responsáveis, pagam contas, administram casas, sabem lidar com doenças e os desesperinhos e desesperões das crianças (inclusive as crescidas). Eles são adultos. Mas, assim como você, que cresce e não parece vestir a idade que tem, eles também podem ser “adultos dissimulados” e por dentro estarem com tanta ou mais insegurança que você sobre a vida. Talvez, eles também sintam falta do clique ou do dia específico em que se tornaram adultos. Foi quando se casaram? Foi quando engravidaram? Foi quando saíram do hospital com um serzinho inteiramente dependente deles? Pode ser que eles nunca sentiram o clique, mas se convenceram de que eram adultos por se enquadrarem em tantos rótulos atribuídos a um adulto. 
Mas este texto não é sobre pais. É sobre pessoas em geral, categorizadas apenas como adultos, independente de outros títulos pessoais adquiridos.
Voltando então: adultos.
No mundo moderno, todo mundo associa a palavra adulto com a palavra boleto. Realmente, são duas palavras que andam de mãos dadas. Mas ouso ir além. Ser adulto é mais do que pagar boleto (ou em alguns casos atrasá-lo). Ser adulto é gerar boletos. Você aprende que tudo custa, e agora, como você tem que pagar com seu esforço, parece que custa mais caro. É aí que muita gente entra em desespero. Tudo parece difícil, longe e complicado. Mas com o tempo as coisas vão se ajeitando. Tanto pode acontecer um aumento na entrada de dinheiro, ou um amadurecimento e aceitação da vida como ela está, até que se mude. Com isso os gostos, as exigências e sonhos vão se adaptando às condições e realidades de cada época adulta vivida. 
Sobre sonhos. Existe também a teoria de que adultos não podem mais sonhar, principalmente sonhos considerados infantis, como aprender a nadar, andar de bicicleta, fazer um intercâmbio, ou largar o emprego e começar do zero uma nova vida. Essa teoria não é minha, mas é construída e enraizada em todos nós. “Mas você já está velho demais para isso”. Nesse sentido, parece que o imaginário “clique” e dia específico que te torna adulto é o mesmo que cancela sonhos e planos antigos. Aos rebeldes que seguem tentando conquistar estes sonhos ditos infantis, cabe a perseverança de se equilibrar na bicicleta e desviar de comentários e olhares do tipo “parece que fulano não cresce”. Andar na bicicleta é aqui a representação de uma lista muito maior de sonhos antigos e esquecidos. 
Muito cruel este encaixotamento dos adultos em rótulos tão específicos e inflexíveis (e ainda previsível, dada as recorrência deste comportamento para tantas outras categorias). Mas o engraçado é que a definição de adulto, juridicamente, é quem atinge a maioridade legal. Comumente, não consideramos 18 anos uma pessoa adulta realmente, e nem esperamos que ela aja como tal. Também me deparei com a definição de que adulto é aquele que atingiu seu máximo de crescimento e plenitude no funcionamento biológico. Por essa definição, ser adulto seria um momento muito pontual da vida, exatamente o vértice da curva de uma parábola com a concavidade virada para baixo. Você cresce, se desenvolve, atinge o ápice (o momento adulto), e já começa a decair com a dor no joelho, a dor na lombar, e tudo mais que não engloba a plenitude do funcionamento biológico tão presente no dia a dia de um adulto. Já a psicologia define adulto como aquele capaz de agir e tomar decisões de maneira racional e equilibrada. Equilibrada? Outra coisa bem pontual, convenhamos. A vida de um adulto é uma montanha russa, às vezes o carrinho está la em cima, racional, pleno, equilibrado, e ás vezes está descendo ladeira abaixo e você torce para o cinto de segurança não soltar porque ninguém está entendendo mais nada. E a vida vai indo assim, entre subidas e descidas, o que torna a definição de “adulto” um tanto quanto dinâmica. Hoje eu estou bem adulto, mas semana passada eu não era tanto, não tomei decisões de maneira plena e equilibrada. Pode ser que daqui três dias mude, mas vamos ver…
Resumo da ópera: não existem adultos! Brincadeira.
A dificuldade na definição mostra exatamente o quão complexo e cheio de mistérios é ser adulto. Mas mais importante do que definir o que exatamente é ser adulto, é não se encaixotar nos rótulos atribuídos a isso e se tornar tão inflexível a ponto de não conseguir ser nada além do que um mero adulto.