Novas rotinas

Novas rotinas

8 de dezembro de 2019 0 Por Agatha Pedersen
Todo mundo já tentou criar uma nova rotina nova saudável. Perdidos no nosso cotidiano, mecânico e caótico, por vezes precisamos de uma reviravolta para sacudir o mundo e nos sentirmos vivos de novo. Aquele momento de mudança: agora vou emagrecer, agora vou fazer exercícios físicos, agora vou estudar, agora vou me dedicar a uma atividade diferente, agora vou ler todos os dias, agora vou aprender uma língua nova ou um instrumento musical, agora vou fazer trabalho voluntário, agora vou fazer meditação… Muitos “agoras”, não é mesmo?
Geralmente estes impulsos vêm depois de alguma inspiração…seja alguém ou algo. Aquilo provoca em você um desejo profundo de dar um reset na sua vida monótona e pouco saudável e adentrar em uma rotina mais dinâmica, mais interessante, e que agregue mais valor ao seu existir. 
Uma segunda opção de gatilho para mudança ocorre quando se atinge algum limite assustador: um peso antes considerado inalcançável somado a alterações de saúde, um emprego insuportável ou a falta dele, a regularidade de uma vida monótona ou a simples necessidade de se fazer algo por si porque o tempo voa e não perdoa os que não têm coragem.
E aí começa o ritual. Você se senta ereto em uma cadeira (porque agora até postura você tem), estrala os dedos, abre um caderno e pega uma caneta.  Passo um, como ensinado em vários blogs, consiste em distribuir seus afazeres pelas horas insuficientes de um dia. Uma vez definido os obrigatórios, você começa a encaixar as novidades saudáveis, sejam elas uma academia, uma meditação pela manhã, uma leitura antes de dormir, um exercício físico ao fim do dia ou uma aula de música ou línguas duas vezes na semana. Redefine o tempo gasto nas redes sociais,  número de episódios de seriado assistidos na semana, o horário do alarme. Começa a monitorar quantos copos de água bebe ao dia e quantas frutas ingere ao longo da semana. Tudo lindo e maravilhoso.
Primeiro dia, o despertador toca 5:20 da manhã. Você desperta, agradece e alonga seu corpo, porque leu em algum lugar que é a melhor forma de iniciar o dia. Arruma a cama, e vai para seu café saudável. Pratica alguma novidade saudável da lista, toma banho e se apronta para o trabalho transbordando otimismo por ter feito tanto antes mesmo das 8h da manhã. Durante o trabalho nada te abala, você é invencível. Retorna pra casa no fim do dia, toma um banho relaxante, alonga seu corpo mais uma vez, come um lanche leve noturno, inclui mais uma novidade da lista saudável e se apronta para dormir. Dia seguinte o despertador toca as 5:20 da manhã. Você desperta, agradece um pouco menos empolgado e usa o tempo do alongamento para dormir mais 10 minutos. Levanta, toma um banho demorado na tentativa de acordar efetivamente e toma o café da manhã correndo pois já está atrasado. Durante o trabalho, coisas te abalam, pois você não está acostumado a dormir tão pouco. O invencível perde o prefixo. Você retorna para casa, toma um banho rápido para poder relaxar os múculos na horizontal, fazendo o menor esforço possível. Lembra que tem que comer. Levanta, come um pão rapidão, escova os dentes e já deita novamente. Amanhã é o dia 03.  
Tudo bem, talvez o trem não descarrilhe em apenas dois dias, para fins práticos e didáticos, a ordem comum dos acontecimentos foi acelerada.
Novas rotinas são importantes, senão essenciais. Quanto mais criativa a alma, mais difícil permanecer no mecânico e e ao mesmo tempo estático. O problema, é que quanto mais criativa a alma, maior também a necessidade de abraçar o mundo nessas mudanças. E a partir disso, de duas uma: ou você se dá muito bem na nova rotina criada até ela se tornar efetivamente uma rotina e você sentir necessidade de uma nova mudança, ou você propõe a si mesmo tantas mudanças e esforços de uma vez que fica difícil torná-las um hábito, e a missão da vida mais saudável só é adiada novamente. 
Existem muitos livros, podcasts e vídeos para ajudar na criação de novos hábitos, e, apesar de também existirem muitos estudos de psicologia, comportamento e condicionamento envolvidos nessas discussões, cada um precisa encontrar seu método próprio. Alguns vão se esforçar e se forçar a reproduzir a nova atitude pelo número mínimo de dias considerados mandatórios para formação de um hábito. Outros vão tentar criar um novo hábito por vez, a passinhos de bebê. E outros vão criar novos hábitos por mecanismos ainda não descritos em livros de auto-ajuda, ou ainda permanecerem na sua vida sem mudanças radicais.  Seja qual for o plano escolhido, é muito difícil ter sucesso de primeira, como é vendido em muitas ideias facilmente compradas. “Siga este plano e em um mês será mais produtivo, saudável e otimista”; “faça isso por tantos dias e será mais bem sucedido em sua carreira” e etc. Para nada na vida existe uma receita de bolo, exceto, para um bolo propriamente dito. Precisamos parar de comprar ideias fabricadas para uma massa de pessoas completamente diferentes e esperar que o resultado seja exatamente o mesmo. Se cada um começa a corrida em um ponto diferente, dificilmente terminarão no mesmo ponto e no mesmo estado de satisfação com sua performance. Leia, pegue ideias, busque, tente. Mas não espere que alguem te entregue de mão beijada seu roteiro. Senão, qual seria a graça?